O cágado
Jurava ser uma tartaruga, mas como o nome sugere…
Apostávamos “mergulho em apneia” numa das sete famosas lagoas de minha cidade. Na minha adolescência era imbatível e apesar deste talento, nadar que era bom… nada! Naquele dia estávamos na parte mais funda. Brincávamos com o ar dos pulmões, quando vi meu amigo se debater desesperado. Havia ele retirado o plástico que da vedação de uma tampinha de Coca-Cola e mastigava feito goma de mascar. Ao puxar o ar, o bendito plástico tampou sua garganta, levando-o ao afogamento. Fui agarrado pelo pescoço feito uma fã do Justin Bieber, enlouquecida. Tive que imediatamente submergir e em frações de segundos, me veio à ideia de fazer o salvamento pelo fundo. Agarrei-o pelos pés, de forma que pudesse empurra-lo para beira da lagoa. Senti por várias vezes, ser agarrado pela cabeleira, o que não me impediu de continuar o salvamento. Salvo, a beira da lagoa, refletimos sobre o episódio do afogamento… aquele plástico vedava maravilhosamente bem! E foi buscando todo ar que restava ao nosso redor, que vi uma pequenina tartaruga. Já havíamos capturados piabinhas em sacos plásticos e aquela pequena tartaruga seria o verdadeiro presente de Deus. Talvez uma gratificação pelo salvamento.
Vim correndo para casa feliz da vida. Na laje da minha casa (que era meu mundo à parte) havia uma caixa d’água com capacidade de 2.000 litros. Feita de alvenaria, às escondidas me servia de piscina… às vezes. Meu amor pelos animais, fez com que colocasse os peixinhos e a tartaruga no reservatório, tornando-o meu aquário particular. O bichinho quando molestado, soltava um liquido leitoso na água e eu delirava com aquilo. Pensava comigo que aquilo era uma bela defesa de camuflagem. Passava horas a fio, brincando com minha tartaruguinha. Tudo corria as mil maravilhas, senão fosse por um pequeno detalhe: _ao passar a semana, todos da casa foram agraciados de súbita coceira ao tomar banho. Uma coceira terrível que durava horas. Era no mínimo engraçado se não fosse trágico. Foi quando minha mãe bateu o martelo: Meninos… subam lá e esvaziem a caixa d’água e lavem-na com água sanitária. Desesperado, com relação ao meu aquário particular, retruquei:
_ Não mãe… Vai matar minha tartaruguinha e os peixinhos mãeeeeee!
_ O berro saiu como trovão: O quêeeee? O que você esta falando peste? Não acreditooooo…
Dos peixinhos, não lembro de que fim tomaram, mas soube naquela hora que aquilo não era uma tartaruga, quando minha mãe (numa bicuda de invejar o Cristiano Ronaldo) chutou o pobre do coitado em direção ao muro:
_Isto é cágado, cabeção! O bichinho quase virou capacete da segunda guerra mundial, achatado por natureza, para deleite de meus irmãos que se sentiram vingados pelas coceiras infernais. As coceiras cessaram. O cágado voltou para seu habitat natural e meu castigo foi esfregar a caixa até deixa-la bem limpa. Pelo menos não dedetizei a tartaruga como fez meu irmão com os passarinhos de meu pai… mas esta história, deixa que mais tarde eu conto. Quem viver lerá!
Abraços!
Sandro Ernesto
Gostei muito Sandro!
Eu disse que talvez reuniria estas lembranças em um livro o qual se chamaria “Relatos probatórios para beatificação em vida de uma Mãe”, Filipa rsrsrsrs. Já pensou uma cena destas numa família de 11 filhos? Fico feliz por ter gostado minha cara amiga… beijo no coração!