Conto de Natal
– Uma cerveja e um conhaque duplo, Baltazar, por favor! – Foi o pedido que fez, assim que apoiou os cotovelos no balcão do bar. Tomou o primeiro copo numa golada só, ali mesmo. Novamente de copo cheio, foi até a porta e observou todo o movimento que aquela data trazia. O vai e vem das pessoas abarrotadas de sacolas e embrulhos de presentes, triplicava sempre no Natal. Mas isto não lhe trazia nenhum ânimo.
Havia cumprido sua jornada de 14 horas de trabalho, e a exaustão do dia não isentava dos problemas que o esperava em casa. Muito menos aquela cerveja. De volta ao balcão e de olhar fixo no copo de conhaque, travava um diálogo imaginário assim como o Tom Hanks protagonizou no filme Náufrago. – Porque devo estar feliz como estas pessoas? Será que elas têm pelo menos metade dos meus problemas? Até quando devo me matar de trabalhar para poder colocar o “pão nosso de cada dia” na mesa de minha casa? Será que estou fazendo o suficiente? – Tudo o que queria naquele momento era que sua mesa fosse farta naquele Natal. Que os filhos ganhassem alguns presentes e que a sua esposa recuperasse a saúde tão debilitada. Que as contas estivessem pagas e que pudesse cantar os hinos natalinos em família com muitos sorrisos e abraços. Queria acima de tudo, que o amor reinasse em seu lar.
O seu diálogo com o Sr. Wilson imaginário foi interrompido subitamente por um pedido: – Me paga uma bebida, senhor? – Viu um mendigo, que apesar de maltrapilho não cheirava mal e tinha um sorriso perfeito.
– Bota uma caprichada para ele, Baltazar! – Disse indicando com os dedos pelo menos a metade de um copo de cachaça. O mendigo levantou o copo de cachaça lentamente a altura da cabeça, como fizesse uma celebração e já ia beber quando foi interrompido: – não vai jogar para o santo não? – Isto foi o bastante para arrancar uma gostosa gargalhada do mendigo.
– Jogar para o santo?! – Disse ainda rindo: – essa é boa! – Jogou algumas gotas no canto do balcão e tomou apenas um pequeno gole. Lentamente chegou o rosto e perto de seu ouvido sussurrou: – Pedi e recebereis!
Aquilo ecoou em seu ouvido e antes mesmo que pudesse questionar viu aquele misterioso homem sumir pela porta do bar. Procurou por entre os transeuntes sem sucesso. Ainda do lado de fora do bar, tomado por um êxtase incomensurável, gritou: – Baltazar, já que volto… Vou até a igreja matriz agora!
Baltazar ficou ali estupefato com tudo aquilo que acabara de testemunhar e mais ainda vendo aquele copo contendo vinho tinto pela metade sobre o balcão.
Sandro Ernesto 19/12/2019
Belo texto!
Um brinde!
Que os santos o atendam…
Muito bom
Parabéns e saúde!
Lindo mesmo, Sandro. Obrigada. Bom Natal e um Feliz Ano Todo a você e aos seus.
Adorei a crônica. Estava com saudades de ler seus escritos!