Boneca de pano
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Há de convir que ela fosse bela. Não a beleza etérea que ofusca os olhos dos pobres mortais, mas a beleza da simplicidade eleita pela mais pura inocência. O brilho dos olhos encantavam os mais moderados, e se não os deixavam petrificados tal qual olhar de medusa, era inevitável e desconcertante. Olhos verdes… verdinhos. O vestido pobre ressaltava a riqueza de suas curvas que ainda menina, germinava a mais bela moça. Apaixonei-me, e acredito que outros tantos em silêncio o fizeram. Caíram poucos grãos de areia da ampulheta até que alguém a desposou. Sugou-lhe a virtude e ofuscou-lhe o brilho, penetrando-lhe a carne como se fosse um viking chegando de longa batalha. Fez-lhe escrava. Invadida seu corpo e sem nenhuma repulsa, como um gato que tem sete vidas, sete vidas pariu. E como sete fosse sua sina, por sete vezes foi espancada quase à morte pelo carrasco em seus anos de cárcere. Sobreviveu.
Naquele ano, o anjo da norte a livrou do seu algoz. Agora livre, olhando-se no espelho frontal daquela loja, sentia pena de si mesmo achando-se velha aos 23 anos. De repente o brilho de seus olhos voltou como o nascimento de uma estrela e um leve sorriso como há muito tempo não se desenhava, rejuvenesceu seus traços. Esquecida num canto da prateleira, a boneca de pano de sua infância era ofuscada pelas luxuosas Barbies da vida. Comprou-a sem hesitar e presenteou a si mesma. Sorria. Queria apenas relembrar com solicitude o frescor da infância naquele natal.
❄ღ⁀⋱‿ ★✴ O coração é onde nascem os sentimentos, que depois são bombeados pelo corpo por meio das artérias causando uma sensação indescritível, a qual nos faz arrepiar nos momentos de sentimento e emoção… Assim é o teu texto de tão comovente, meu ‘CHÃO de ESTRELAS’… Envio-lhe a “minha” “Boneca de Pano”(por Nanda), espero que gostes.
Foi assim que imaginei a tua personagem no instante em que ela viu a boneca…
De olhos redondos
em forma de lua,
um risco a caneta
traçando o sobrolho,
a boca rasgada,
em feltro vermelho,
bochechas coradas
em tons de carmim
a minha boneca
sorrindo pr’a mim
Ao centro um botão
formando o nariz,
dois laços de seda
enfeitam-lhe as tranças
tecidas de lã
Um sonho o vestido
franzido no peito,
dando roda à saia,
vestida de chita,
sapatos vistosos
feitos de cetim
Gosto da boneca
que é feita de trapos
converso com ela
olho-a nos olhos
e sinto-lhe a alma…
Beijos achocolatados e votos de muito mais inspirações emotivas.◕‿-。
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Puxa vida… se não fosse eu que tivesse escrito juraria de pés juntos que este poema é a parte final deste texto. É lógico que gostei querida Lu. Esta personagem é um grito engasgado sobre a violência doméstica dentre outros assuntos que aborda e a boneca de pano é apenas o link direto para fazer as pazes com o passado. Obrigado pela presença e comentário aqui minha querida amiga. Vai ser madrinha do sorriso que acabo de parir kkkkkkkk. Beijo no teu coração!