A Carona
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— ¹Nossinhora Genôr… O que é que aconteceu homem de deus! Parece até que você viu um lobisomem, homem… Respira sô! Calma… Calma… respira!
Clotilde socorria desesperadamente Agenor com um copo d’agua na mão. O homem havia chegado a casa, jogado as sacolas do supermercado no chão, enquanto despencava no sofá da sala, mais branco que colarinho de político em época de eleição. Faltavam-lhe as pernas assim como ar. Numa golada só, voltou o coração goela a baixo. E só depois que o monitor cardíaco manual confirmou a normalidade dos batimentos, então pode contar o acontecido gesticulando feito maluco.
— Você não vai acreditar mulher… É aquele ²disgramado de seu cunhado peçonhento duma figa. Ahhh mas ele me paga… Ah se paga! Resmungou.
— O quê que aquele filho de deus aprontou agora meu Deus do céu… Conta logo homem!
— Você acredita?… Logo que coloquei os pés fora de casa, o peçonhento parou com a caminhonete ao meu lado oferecendo carona?! Eu recusei, recusei… mas o tarado insistiu feito uma mula. Mal entrei e ele começou a lamentar a vida. Disse que ninguém gostava dele, ninguém mandava um emoji no celular, falou que quando morrer vai deixar toda herança para o governo, que ninguém vai pegar nem uma cueca do miserável… Só Jesus Cristo na causa!
— E você liga para isso homem? Você sabe que o bestado conversa mais que pobre na chuva? Deixa pra lá, sô!
— Deixa pra lá… Deixa pra lá? Se fosse só isto estava bom. Continuou— Chegando ao supermercado, minha orelha queimando de tanta ladainha, ele solta que esteve doente e que havia saído do hospital àquela hora. Curioso, perguntei qual a razão de parar no hospital e na maior cara de pau respondeu:
— Peguei Covid … Mas agora estou bom igual um coco!
Na altura do campeonato a pressão de Agenor voltava a campo, e mais outro copo d’agua numa golada só se fez necessário.
— Meu deus do céu… E o que você fez? Perguntou Clotilde preocupada.
— Uai… Só não xinguei ele de Bolsonaro, porque o nome do capeta não me veio a cabeça. E ele lá, rindo dizendo que ia me esperar para trazer de volta. O que eu fiz? O que eu fiz? Fui às compras às pressas, paguei… Olhei para um lado e para outro e fugi pelos fundos do supermercado correndo que nem uma gazela, uai!
— Santo Antônio dos Jogos Olímpicos… E você o deixou lá esperando?
— Lógico uai… Já ouvi dizer que a morte vem buscar a gente pessoalmente, mas dar carona também é demais né?
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Sandro Ernesto 22/02/2021
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*Baseado em fatos reais, qualquer semelhança não é mera coincidência.
¹Nossinhora= contração mineirês de “Nossa senhora”
²Disgramado= pessoa egoísta e esperta, maledicente
Bah! Adorei e quem não fugiria,rs…Pegar carona com a morte e ainda com um quase nome desses? Eu só de imaginar figiria! abraços, chica
Nestes tempos de pandemia existe muita gente que não tem o menor cuidado com o outro, daí o melhor que a gente faz é distanciar, nem que nos custe as pernas e o fôlego, não é minha amiga?!! kkkkk Apesar de escrito no tom de humor, esta realidade tem ceifado vidas. Obrigado pelo carinho de sempre… que sua semana seja abençoada e produtiva! Beijo no coração PS: Sem caronas kkkkkkk
Oi Sandro!
Paz e bem!
Que maravilha de história.
Adorei! Ri muito.
Beijos.
kkkkkk Que bom Rita que você se descontraiu… a ideia é de levar o recado com bom humor. As pessoas de grupo de risco é que tem que ficar atentas à estas situações. Vai fazer um ano que vejo meus pais somente o necessário (eu que busco as emergências) a 5 metros de distância, com máscara e álcool. Temos que evitar situações como esta mesmo… aí até dá para rir depois kkkkkkk. Obrigado pela leitura e comentário… que sua semana seja de luz e paz! Beijo no coração
Excelente! Conto e corrida… Rindo e fugindo até agora…
Nestas horas a gente pega com o “Santo Antônio dos Jogos Olímpicos” e pernas pra que te quero kkkkkkkkkk. Depois de recuperar o fôlego a gente morre de rir rsrsrsrs. Um forte abraço meu amigo!
Sensacional: a arte em suas diversas manifestações nos salva.
kkkkkk adorei, Sandro!
Para enfrentar essa loucura tem que ser assim né? Sempre com bom humor.
Beijos, querido 😉
Acho um pouco difícil achar alguém que não tenha um parente, amigo, vizinho, conhecido que não foi vítima deste vírus, e eu não sou uma exceção, Gabriela. Perdi recentemente pessoas muito próximas e conhecidos, que eram queridas… mas definitivamente a tristeza não vai traze-los de volta. Apesar de ser engraçado, esta história serve de alerta… quem tem que resguardar e que correr de caronas como estas somos nós não acha?! kkkkkk Obrigado sempre minha querida amiga! Beijo no coração
Sinto muito pelas suas perdas, Sandro :/
E com certeza, se tem uma coisa que me faz correr sem olhar pra trás é esse bendito desse corona! Mas agora estamos mais perto do fim, pelo menos assim eu espero né…
Que a gente sai dessa logo e bem
Deus lhe ouça minha amiga… obrigado novamente! Bjo
Cheio de humor e picardia. Adorei.
E põe picardia nisto Odonir… se “rir é o melhor remédio” espero que os leitores tenham tomado boas doses de humor . Ah… e nada de carona né? kkkkkkk Obrigadoooo! Beijo no coração