Último Suspiro

          Recentemente fui convidado à participar de um desafio lançado pela nossa amiga Dulce, em nosso querido espaço Tubo de Ensaio. O desafio consistia em publicar, ou em palavras ou em desenhos, enfim… de livre expressão artística, alguma coisa que baseasse na seguinte reflexão: “E se o sol amanhã não nascer ?!”, o que resultou neste maravilhoso momento poético que desde já, atesto que vale a pena conferir: Tubo de Ensaio: “E se amanhã…“. Minha participação foi este pequeno poema abaixo:

          Ao me fazer esta pergunta: “E se o sol amanhã não nascer?!” me veio uma série de outras perguntas como: O que um ser humano faria?! O que eu faria e com quem faria ?!… dentre outras tantas perguntas.

          Naquele momento só me veio à cabeça meu amigo “Luiz com Z“. Naquele momento “Luiz com Z” estava hospitalizado, vitimado por uma fibrose pulmonar que comprometeu 75% do seu pulmão e que o faria respirar pelo resto da vida através de uma máscara de oxigênio, e o tornava dependente de uma cadeira de rodas. Naquele momento, eu, amigos e familiares gozavam de perfeita saúde para celebrar a vida, enquanto o meu amigo “Luiz com Z” tinha as esperanças reduzidas. Impossibilitado de fazer um transplante. Obrigado a viver com 25% apenas de seu pulmão. E eu, como perfeito estúpido ser humano que se diz amigo, menti descaradamente para ele dizendo que: “…milagre não é adoecer e se curar Luiz… milagre acontece todos os dias na vida da gente quando acordamos, independente da nossa situação física ou financeira e… este sim, é o momento de darmos graças“. Fi-lo acreditar que tudo ficaria bem, e que “nada como um dia após o outro”. Fi-lo acreditar que viveria por muitos anos ainda. 

          Neste último domingo não pude levá-lo para afrodescendentar. O tempo frio não ajudava e, ele teve que se contentar apenas com um creme de massagem usado para estimular a oxigenação precária de seu sangue. Não gostei do que vi. Não vi o brilho do seus olhos e nem seu sorriso gostoso, que era seu maior patrimônio, sua marca registrada. E naquele momento não podia mentir mais para ele, nem para família e nem para mim mesmo e antes que o sol se pusesse, ele deu seu último suspiro. Não houve tempo de filtrar um raio solar com a lupa e acender a fogueira, mas a lembrança de seu sorriso largo, aquece e faz um luau no meu coração neste momento, enquanto as lágrimas saem sem pedir licença querendo teclar também um sentimento. O sol acaba de nascer e lá vou eu agradecer mais um milagre que se anuncia e a sua existência que, só agora pude perceber que bem mais que um amigo, ele era um ” irmão “.

PS: Não sei porque cargas d’água eu deixava “Luiz com Z” irritado ao escrever seu nome com “S”, o que me rendia deliciosas gargalhadas… coisas de amigos.

Sandro Ernesto 26/05/2015